23.11.07

Os Sonhadores - Parte 7/8

Da intuição até o domínio absoluto da técnica, do som como elemento definidor à pressão dos grandes estúdios, oito diretores fundamentais explicam seu trabalho e apontam as tendências da sétima arte, numa série especial sobre a arte de dirigir especialmente criada em comemoração aos 4 anos da Rede Spoiler!

Lars von Trier (1956), é dinamarquês e o principal nome do Dogma 95 (movimento que se propunha a "desnudar" o cinema, banindo efeitos artificiais). Dirigiu DANÇANDO NO ESCURO (2000), DOGVILLE (2003), MANDERLAY (2005) e outros. Eis suas impressões em entrevista exclusiva para SPOILER!

VON TRIER, A busca da emoção

O que me parece primordial é fazer um filme para si mesmo, e não para o público. Se você começa a pensar no público, certamente vai se enganar e fracassar. Para fazer filmes, uma parte de você deve evidentemente ter vontade de se comunicar com os outros, mas essa não deve ser a motivação principal, senão o filme não vai funcionar. Você deve fazer o filme que você quer ver, e não aquele que acredita que o público quer ver. É uma armadilha na qual vejo muitos cineastas caírem. Isso não significa que não se podem fazer filmes comerciais. Significa somente que esses filmes devem agradar a você antes de agradar ao público. Um cineasta como Steven Spielberg [1947] faz filmes muito comerciais, mas estou convencido de que ele os faz antes de tudo porque tem vontade de vê-los. E é por isso que eles funcionam. [...]

Alguns anos atrás, todo mundo lhe diria que eu era o pior diretor de atores que já existiu. E, sem dúvida, eles teriam razão. No entanto eu diria em minha defesa que o estilo de filme que eu fazia exigia isso. Hoje mudei um pouco de opinião. Em uma filmagem como a de DOGVILLE [2003], tenho a impressão de ser um anfitrião, e todos os atores são meus convidados. De repente, isso me cria outras preocupações. Porque, quando vejo que um dos meus "convidados" não se diverte na festa, sinto-me culpado e não consigo trabalhar.

Quero que todo mundo se sinta bem em meu set. Quero que meus atores não sintam nenhuma pressão. Cabe a mim absorver toda a pressão, a fim de criar um clima no qual possa se estabelecer confiança. Pois, embora seja um clichê, a confiança é o fator vital no trabalho com um ator. É verdade que no meu caso minha reputação ajuda muito. Como todo mundo sabe que faço coisas um pouco loucas, os atores que aceitam trabalhar comigo o fazem com conhecimento de causa. Em geral estão dispostos a tudo.

Coisas meio malucas

E o que foi formidável com Nicole Kidman, por exemplo, é que ela sempre aceitou experimentar muitas coisas meio malucas que não estavam previstas. E acredito que é o maior sacrifício que se pode pedir a um ator: assumir o risco de se ridicularizar pelo bem do projeto. [...]

Não faço filmes para exprimir idéias. Entendo que se poderia pensar isso vendo meus primeiros filmes, porque eles têm algo um um pouco frio e quase matemático. Mas, mesmo na época, acreditava que no fundo eu já era o mesmo que hoje. Essa busca da emoção sempre orientou meu trabalho, e, se meus últimos filmes podem parecer mais fortes e mais tocantes que os primeiros, é sem dúvida só porque, como pessoa, me tornei mais aberto às emoções.

Por Lars von Trier, direto para SPOILER

SPOILER
4 Anos
26.11.03 ~ 26.11.07

Nenhum comentário:

by TemplatesForYou
SoSuechtig,Burajiru