23.11.07

Os Sonhadores - Parte 6/8

Da intuição até o domínio absoluto da técnica, do som como elemento definidor à pressão dos grandes estúdios, oito diretores fundamentais explicam seu trabalho e apontam as tendências da sétima arte, numa série especial sobre a arte de dirigir especialmente criada em comemoração aos 4 anos da Rede Spoiler!

Martin Scorsese (1942), é um dos mais influentes cineastas americanos dos últimos 30 anos, sabendo aliar a capacidade de contar histórias à técnica cinematográfica. Dirigiu TAXI DRIVER (1976), TOURO INDOMÁVEL (1980), DEPOIS DE HORAS (1985), GANGUES DE NOVA YORK (2001), O AVIADOR (2004) e OS INFILTRADOS (2006), pelo qual recebeu seu Oscar de Direção, entre outros. Eis suas impressões em entrevista exclusiva para SPOILER!

SCORSESE, O roteiro é vital

Mesmo que corra o risco dizer o óbvio, afirmo que o dever de um cineasta é saber do que fala. No mínimo, creio que deva conhecer os sentimentos e emoções que tenta comunicar ao público. Isso não o impede de usar recursos mais exploratórios mas apenas, acredito, na superfície, ou seja, no nível do contexto da história.

Um filme como A ERA DA INOCÊNCIA [1993], por exemplo, pode parecer muito distante do meu arrazoado, porque jamais vivi em alta sociedade, e muito menos no século passado. Mas o que fiz, nesse filme, foi tomar sentimentos que eu conhecia e transpô-los de volta para um universo que eu não conhecia, mas me intrigava, a fim de estudá-los de maneira quase antropológica, ou seja, analisando de que maneira as regras e convenções da sociedade daquela época poderiam influenciar e afetar esses sentimentos.

Não importa qual seja a situação, acredito que um diretor deva saber do que fala, e saber aonde vai. A idéia de cineasta que descobre o filme ao fazê-lo, não creio que seja verdade. Mesmo que Fellini tenha sempre reivindicado que seus filmes eram todos improvisados, estou certo de que ele tinha no mínimo uma idéia muito precisa do que desejava realizar.

A única situação de improviso visual que concebo é na filmagem de cenas suplementares, que não constam do roteiro e não são importantes ou indispensáveis para o filme. Nesse caso, me sinto um pouco mais livre. Mas, mesmo assim, inventar um filme feito desses pedaços, ou seja, filmar sem roteiro, me parece inconcebível. O roteiro é vital. [...]

Na época de A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO [1988] e A COR DO DINHEIRO [1986], eu lecionava cinema nas universidades Columbia e de Nova York ou, mais exatamente, eu conversava com os estudantes que estavam realizando seus filmes. Em termos gerais, o maior problema dos projetos deles fica no nível que costumo designar como "intenção", ou seja, aquilo que o cineasta tenta comunicar por intermédio de seu filme. Há diversos fatores que podem tornar esse problema aparente, mas creio que o mais evidente seja o da colocação da câmera.

O lugar da câmera

Os estudantes muitas vezes não conseguiam responder à pergunta fundamental para todo cineasta: onde colocar a câmera para permitir que o plano mostre o que deve mostrar? E não simplesmente o plano em questão, mas aquele que o sucederá e aquele que o precedeu, igualmente, e como cada um dos planos, quando montado em companhia dos outros, permitirá finalmente exprimir a idéia que o cineasta tem em mente.

Pode se tratar de uma idéia puramente física -um homem entra em um aposento e se senta em um sofá- ou de algo mais temático, ou seja, uma reflexão filosófica ou uma observação psicológica. Mas em todos os casos retornamos invariavelmente ao mesmo ponto de partida: onde colocar a câmera para que se possa dizer o que é preciso ser dito?

Pode ocorrer, claro, que o problema de muitos estudantes e de muitos jovens cineastas seja exatamente o fato de que eles não têm nada a dizer. E é por isso que seus filmes acabam sendo obscuros demais, convencionais demais e orientados demais ao mercado comercial [...].

Certos cineastas faziam seus filmes para o público. Outros, como Hitchcock ou Spielberg, fazem-nos ao mesmo tempo para eles e para o público. Hitchcock tinha perfeito conhecimento do público, sabia exatamente como seduzi-lo e manipulá-lo. Mas, por trás de tudo, ele tinha uma filosofia e uma psicologia tão fortes que, na verdade, o que fazia era disfarçar filmes muito pessoais em filmes de suspense. Eu creio que faço meus filmes para mim mesmo, sem deixar de saber que eles terão um público, mas sem tentar antever qual será a reação do público, que forma a audiência tomará. [...]

Por Martin Scorsese, direto para SPOILER

SPOILER
4 Anos
26.11.03 ~ 26.11.07

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