29.2.08

Max Von Sydow morre na página 25

Porto: Max Von Sydow teve 13 vidas no cinema agora órfão de Ingmar Bergman, mas essa "experiência" não é um daqueles casos em que o cinema é maior do que a vida. É um daqueles casos em que a vida é maior que o cinema. 51 anos depois dO SÉTIMO SELO, o filme em que Bergman o coloca jogando xadrez com a morte e... conseqüentemente perder (mas bem depois da página 25), ainda não lhe aconteceu nada insubstituível nessa iconografia, apesar de trabalhar com John Huston (CARTA AO KREMLIN e FUGA PARA A VITÓRIA), Sydney Pollack (OS TRÊS DIAS DO CONDOR), Steven Spielberg (MINORITY REPORT - A NOVA LEI), David Lynch (DUNA), Wim Wenders (ATÉ O FIM DO MUNDO), Lars Von Trier (EUROPA), Bertrand Tavernier (LA MORT EN DIRECT) e Woody Allen (HANNAH E SUAS IRMÃS).

Woody Allen? “Foram duas semanas. Não é possível comparar duas semanas de Woody Allen com 20 anos de Bergman. Não seria justo”. Julian Schnabel (fizeram O ESCAFANDRO E A BORBOLETA no ano passado)? “Sim, um diretor magnífico, mas de novo: foi um dia de trabalho. Não posso comparar Bergman com nada. Foi o único cineasta com quem trabalhei continuamente. Fui terrivelmente mimado”.

Tem 78 anos, agora, na vida real (nasceu em 10 de Abril em Lund, na Suécia). Teve 92 anos em O ESCAFANDRO E A BORBOLETA. É um velho, e este cinema não é para velhos: “Que papéis me oferecem nesses dias? Avós - pais, na melhor das hipóteses. E os avós estão sempre muito doentes no início do filme e depois morrem na página 25”. Não foi o cinema de Bergman (de quem também foi avô, em AS MELHORES INTENÇÕES, de Bille August) que fez dele um velho. Mas foi o cinema de Bergman que fez dele um ator “impressionantemente alto e impressionantemente estrangeiro: Em 1957 eu entrei num filme de Bergman e Hollywood percebeu minha existência. E em Hollywood eu sempre fui o estrangeiro. Os estrangeiros dão bons vilões com sotaques sinistros. Eu dei um bom vilão”.

Também deu um bom padre: “Trabalhei com o Bergman e os americanos olharam para aquilo e disseram: Ah... Um diretor sueco... Sério... Religioso... E este ator... Dá um ótimo cruzado... O que aconteceu depois? Me convidara para fazer Jesus e assim foi em A MAIOR HISTÓRIA DE TODOS OS TEMPOS. E depois os produtores sem muita imaginação e preocupados em não perder dinheiro, optam sempre pelo seguro: Se precisarem de um padre, procuram atores que já fizeram padres, de preferência com algum sucesso, e encontram Max Von Sydow. E então o Max Von Sydow faz cruzado, Jesus, padre, bispo, papa e vigário. Tive de pôr um ponto final nisso. Há algum tempo que deixei de aceitar papéis desses". Há algum tempo, mesmo: Em 1982, já não quis ser o bispo de FANNY E ALEXANDER (e agora lamenta não ter aceitado).

Max Von Sydow esteve completamente "em casa" no cinema de mulheres que foi o cinema de Ingmar Bergman - tão completamente que Bergman o chamou para participar nos três filmes que rodou na ilha de Faro (A HORA DO LOBO, VERGONHA E A PAIXÃO DE ANA), onde foi viver a perfeita vida sueca depois de esvaziar o apartamento de Estocolmo.

E aconteciam coisas nessas filmagens que nem ele nem Bergman conseguiam explicar: "São matérias que se movimentam num nível muito irracional: Era uma relação de trabalho, mas também era uma relação de amizade. E também era uma questão de profunda admiração. É difícil falar sobre isso, foi demasiado importante para mim. Particularmente durante os 20 anos que passamos juntos, mas também agora, a esta distância. Eu me fiz ali”, explica.

Ainda hoje, meio ano depois da morte de Bergman, há coisas que parecem de fato carne da mesma carne e sangue do mesmo sangue. Bergman disse uma vez: “Nós Tínhamos uma relação enigmática. Ele foi tremendamente importante para mim. O exibicionismo que há agora nos filmes vai passar. Com o tempo, as pessoas voltarão a respeitar o desprendimento sutil que há entre Max e os meus loucos. Se esse desprendimento não existisse, os meus filmes teriam sido insuportáveis. Isto é cinema: um ator não tem de ser um louco, tem de agir como um louco". Agora, Max Von Sydow falou e voltamos a ouvir a voz de Bergman: “Tanto me faz ser o bom ou o vilão. Não temos de gostar das personagens que representamos: O ator não é aquela pessoa, apenas age como ela”.

Ser um homem naquele cinema de mulheres “não era assim tão diferente de ser um homem na vida real”: Estar naquele cinema é que era “diferente”: “Ele tinha uma extraordinária capacidade de conseguir que os atores e equipe fossem entusiastas do projeto. E tinha também uma disciplina de trabalho muito rígida, com a qual acho que todos aprendemos, e que é profundamente produtiva para este tipo de trabalho - e que era determinante do teatro”.

Max Von Sydow e Ingmar Bergman conheciam-se desde outro mundo mais radical e mais primitivo - Bergman o viu em A ROSA TATUADA, de Tennessee Williams, numa produção do Teatro Municipal de Helsinborg, e quis trabalhar com ele imediatamente. “Não sei porquê, mas por alguma razão eu não me via como ator de cinema. Já tinha feito dois ou três filmes (o primeiro em 1949), mas mantive-me nos teatros municipais por mais nove anos. Quando decidi ser ator, decidi ser ator de teatro". E foi, contra a ordem natural das coisas: “Cresci numa pequena cidade no Sul da Suécia onde havia um ou dois cinemas, mas nenhum teatro. Não era uma coisa que interessasse aos meus pais: eram muito antiquados. O meu pai tinha 50 anos quando eu nasci. Era um professor universitário, e tenho certeza de que tinham planejado para mim uma coisa dessas, uma carreira acadêmica. Mas quando eu tinha 14 anos, uma cidade vizinha abriu um grande e moderno teatro municipal e a escola onde estudava, levou os alunos para ver SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO. Para mim foi uma revelação total”.

Ainda prefere o teatro - já não tem é disciplina. “Sou demasiado preguiçoso. Não quero ficar preso a um projeto que me obrigue a estar no mesmo lugar meses a fio. Uma peça bem-sucedida pode ficar em palco para sempre. É tempo demais. Nessa fase prefiro estar dois dias num filme e depois reconquistar a liberdade”, admite.

E assim vai... Dois dias no Porto (sempre com a mulher, a francesa Catherine Brelet). Mais dois em Santiago de Compostela, mais dois em Nova Iorque onde Martin Scorsese tem planos para ele (Quais? “Ainda não posso falar sobre isso”). Amanhã, quando começar uma retrospectiva em sua homenagem no Festival Internacional de Cinema do Porto (Portugal), ele já estará do outro lado do mundo, já sabendo em que página morre no cinema de Scorsese.

>>>Leia a crítica dO SÉTIMO SELO aqui!
>>>Leia a crítica dO ESCAFANDRO E A BORBOLETA aqui!

3 comentários:

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