O que atraiu Joe Wright em levar "Reparação", best-seller de Ian McEwan, das páginas para a tela foi a narrativa do ponto de vista de Briony Tallis em três fases-chave de sua vida – e nisso enxergou um emocionante desafio. "Ao levar o livro para o cinema, a história se revela enquanto você a cria", disse o diretor.
"Quando recebi o roteiro pela primeira vez, estava muito diferente do romance. Eu achava o livro brilhante, e Christopher e eu recomeçamos do zero, nos mantendo o mais fiel possível ao livro. Nossa colaboração fluiu bem, o que foi ótimo. Um livro é uma ilusão, uma série de símbolos em uma página que criam uma narrativa em sua mente. Existem tantas versões de um livro quanto for o número de leitores da obra. Fiz uma adaptação da história que se passou em minha mente enquanto lia", disse Wright.
O escritor Ian McEwan, que já viu seus trabalhos adaptados para o cinema em outras ocasiões, sabia que a tarefa não seria nada simples. "É um trabalho de aniquilação. Você precisa condensar 130 mil palavras em um roteiro contendo 20 mil palavras. E, nesse caso específico, há maiores dificuldades para o roteirista, pois esse romance reside dentro da consciência de diversos personagens. Acho que Christopher Hampton trilhou um inteligente e engenhoso caminho através do livro", observou.
DESEJO E REPARAÇÃO aborda experiências cotidianas, relacionamentos, emoções, escolhas e decisões – assuntos de relevância contemporânea. Em ORGULHO E PRECONCEITO, Wright mostrou como diretor que tem o talento de interpretar histórias de tal forma que um público dos tempos atuais consegue enxergar além da época e ambientação de um enredo.
Com o roteiro pronto, o diretor passou para a preparação meticulosa do próprio filme, reunindo-se com cada departamento para assegurar que sua visão e o conhecimento da equipe estivessem casados de maneira que, assim que a filmagem começasse, todos estivessem "na mesma página". Isso incluiu um ensaio de três semanas com os atores, para familiarização com os papéis. Quando escalou o elenco, Wright achou importante que os atores tivessem idades similares aos personagens que interpretariam. Com isso em mente, ao pensar em alguém para o papel de Cecilia Tallis, a escolha recaiu sobre a atriz indicada ao Oscar Keira Knightley. A relação de trabalho entre Wright e Knightley se desenvolveu durante as gravações de ORGULHO E PRECONCEITO, e por isso eles tinham entendimento e respeito mútuos pela abordagem de cada um em DESEJO E REPARAÇÃO.
"Uma das coisas que eu acho incrível sobre a atuação de Keira é que ela não tem medo de representar uma personagem bastante fria e difícil. Muitos atores ficam apavorados de serem rejeitados pelos papéis que têm nos filmes", disse.
Knightley explica o apelo em interpretar Cecilia, personagem muito diferente de qualquer outro que ela já tenha encarado em sua carreira: "Gosto do personagem porque é uma mulher. Ela sabe quem é, mas não sabe que direção tomar, então fica nesse conflito. Ela não percebe que na realidade gosta de Robbie, com quem cresceu, e não admite que exista nada além de um tipo de relação entre irmãos, mas que na verdade é algo bem diferente."
Para Robbie Turner, filho da governanta e um inteligente jovem educado em Cambridge pela família Tallis, Wright achou essencial escolher alguém que levasse o público por uma jornada que vai de uma época de esperança e prosperidade até os horrores da Segunda Guerra Mundial. "James (McAvoy) tem raízes de classe operária e isso foi muito importante para o papel de Robbie, cuja história é a de um garoto destruído em parte pelo esnobismo de uma família de classe alta", disse o diretor. "O personagem pedia alguém com ‘olhos de otimismo’, e James tem isso", acrescentou.
McAvoy ficou contente com a oportunidade de trabalhar com o diretor: "Joe é muito completo – ele entende o público, os atores e a história que está contando, e sabe como aprimorar o trabalho do elenco", observou. Vanessa Redgrave, cujo papel é o de Briony Tallis mais velha, concorda com McAvoy em relação ao diretor: "Ele é brilhante com os atores e o filme foi belamente produzido." A Briony Tallis mais nova é retratada pela novata Saoirse Ronan, atriz irlandesa de 12 anos de sensibilidade aguçada, perfeita para o papel da confusa menina de 13 anos que tem sentimentos que não entende em relação a Robbie, além de uma imaginação fértil.
Wright ficou impressionado com o talento de Ronan: "Muitos atores se utilizam de sua própria experiência emocional e imaginação, de forma que substituem a emoção do personagem por sua própria, e isso não é certo ou errado. Mas Saoirse simplesmente imagina como seria ser Briony Tallis e tem tanta empatia que pode sentir e expressar as emoções de outro ser humano, e eu considero isso uma habilidade incrível", disse. O papel da Briony de 18 anos ficou com Romola Garai, a última das três a entrar para o elenco e que por isso precisou encaixar-se no visual já criado para a Briony mais nova e a mais velha.
O aspecto visual das três partes do filme teve, para Wright, identidades bastante diferentes que ele quis sutilmente transmitir para o público. Isso envolveu uma cuidadosa correlação entre os departamentos, em especial a fotografia, a direção de arte, os figurinos e o cabelo e maquiagem. A idéia de Wright era orientar cada departamento para que em troca eles unificassem e aprimorassem o trabalho um do outro. Mas além da coerência em relação à época retratada, foi preciso criar harmonia também em relação ao visual das três atrizes no papel de Briony, desde cabelo e maquiagem até as roupas.
A figurinista Jacqueline Durran explica: "Era importante haver continuidade entre as três Brionys. Para mim, isso significava uma cartela de cores similar, então, como começamos com tons crus com Saoirse, levamos isso adiante até o azul claro e branco dos uniformes de enfermeira de Romola. Foi também essencial que, chegando a Vanessa Redgrave, continuássemos com esse tipo de cor." Ivana Primorac criou os penteados e maquiagem que revelam as circunstâncias e experiências dos personagens – do luxo e beleza de 1935 ao efeito da guerra e perda em 1940. Como ela explica, "A seqüência de 1935 na casa dos Tallis tem um tema estilizado de anos 30. O visual foi levado a um ponto em que a aristocracia inglesa não chegava naquela época – tornamos o mundo deles mais glamouroso. Já na Londres de 1940, o cabelo e a maquiagem refletem uma brutal realidade. O visual de Cecilia é influenciado pelas cores e realismo do período. Em comparação, na casa dos Tallis, é quase como um sonho: as memórias de Briony de um tempo mais feliz", concluiu.
Wright e seu cinegrafista, Seamus McGarvey, usaram a câmera não apenas para captar visualmente a história mas também como um próprio artifício para a narrativa, através de movimentos e técnicas aplicados a ela nas três partes do filme. O visual distinto que as cenas de 1935 têm deve-se em parte à iluminação e técnicas que McGarvey empregou: "Usamos um filtro que era basicamente uma meia-calça Christian Dior, o que cria um belo brilho em torno de pontos luminosos ou suavizados e uma sensação resplandecente", disse o cinegrafista. Na transição entre 1935 e 1940, as técnicas de filmagem são modificadas para revelar a mudança de tons do luxuoso cenário da casa dos Tallis para a Londres e França da época da guerra.
Quando chegou a hora de captar a ação em Dunkirk, filmada na praia de Redcar, Wright quis filmar tudo em apenas uma seqüência com uma steadicam. A decisão foi ousada, já que na cena há dois mil figurantes locais representando os soldados que aguardavam ser levados em segurança para casa, espetacular ambientação incluindo um coreto, uma roda-gigante em funcionamento, prédios bombardeados, um navio encalhado, um coral cantando, soldados montando a cavalo através dos destroços e homens jogando futebol. "Passamos o dia todo ensaiando, das 6:00 às 18:30, e aí transformamos aquilo em um grande evento. Todos se envolveram, e os figurantes perceberam o que queríamos alcançar. Tornou-se mais uma peça de teatro. Foi ótimo, eu adorei. E a iluminação estava incrível. Sempre achei que fosse estar boa, não questionei isso. Eu tinha fé", contou o diretor.
Wright prestou detalhada atenção em todos os aspectos da produção do filme – do exagerado barulho de água corrente quando Cecilia surge da fonte em uma cena intensa com Robbie, passando pelo sotaque de classe alta que a família Tallis adota, ao engenhoso e entrelaçante som da máquina de escrever na trilha sonora. Cada área recebeu igual consideração. O produtor Paul Webster acrescentou: "Joe faz coisas incrivelmente complexas de uma forma simples, e de maneira que o público em geral pode entender. O filme baseia-se em um livro erudito com idéias eruditas, mas, que ainda assim, são universais."
Cortesia da Universal Studios
5.12.07
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Estou tão ansioso para esse filme! Mal vejo a hora de conferir. Confio muito no Joe Wrighr, pois adorei o (pouco) que vi em "Orgulho e Preconceito" - deu para perceber que não é um diretor qualquer. O Hampton parece ser um roteirista adequado para o projeto mesmo, não tinha conhecimento dessa posição do McEwan. E sei que é complicado, mas bem que poderiam dar o Oscar para a Saoirse Ronan, não?
Belo post, inclusive gostei de saber a opinião de alguns nomes da equipe técnica (não à toa é um dos favoritos da temporada de prêmios nessa área).
Abraço!
Ótimo post. Estou muito empolgado com o filme, parece ser fantástico! Adorei Orgulho e Preconceito e acho o elenco ótimo. Eles deveriam apressar logo e lança-lo para o deleite de nós cinéfilos.
Ciao!
Adorei saber tudo isso sobre a producao do filme, como tudo foi cuidadoso, nos seus minimos detalhes. Parece que tudo estah em sintonia com o livro, e principalmente a historia, que eh realmente sob o ponto de vista de Briony. Aguardo ansiosamente pra ver o resultado!
Postar um comentário