São Paulo: Se a Mostra é um banquete de 200 ou 300 talheres, perdão, filmes, gourmet, ou cinéfilo, que se preze já deve estar com água na boca. Leon Cakoff e Renata Almeida realizaram no sábado de manhã a coletiva da 31ª edição do evento que ele criou em 1977. A Mostra deste ano vem forte, cheia de atrações. Sim, você vai poder ver os grandes vencedores de Cannes (4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS) e Veneza (LUST CAUTION), além de obras que vai valer a pena garimpar, até porque a tradição da Mostra sempre foi esta - permitir ao cinéfilo paulistano a descoberta de novos talentos e cinematografias.
Não por acaso, Hector Babenco, convidado a fazer o cartaz deste ano - e ele abre a Mostra, no dia 18, com seu inédito O PASSADO, que vai trazer Gael García Bernal à cidade -, colocou-se na singular posição de um homem-cartaz que, no centro de São Paulo, carrega uma placa que aponta para o comércio de ouro. A Mostra garimpa ouro há 31 anos, está dizendo Babenco. Sua imagem estilizada vai virar animação na vinheta que ainda está sendo concluída e será projetada milhares de vezes, na abertura de todas as sessões do evento, que começa dia 19 para o público, e vai até dia 1º de novembro, quando ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ, dos irmãos Coen, será exibido na sessão de encerramento.
Filmes, filmes, filmes. E retrospectivas, e oficinas, debates e lançamento de livro. A diversidade que dá o tom da programação da Mostra atinge, cada vez mais, o seu formato. O evento promove este ano seu segundo piching, encontros individuais entre produtores e agentes de vendas nacionais e estrangeiros para a apresentação de filmes e projetos. Vamos logo às retrospectivas. A mais importante deve trazer a São Paulo o chinês Jia Zhang-ke, autor de uma obra que, embora reduzida, já é fundamental no cinema da atualidade, basta citar O MUNDO e EM BUSCA DA VIDA. Dois diretores franceses também ganham homenagens (e ambos virão ao País) - o jovem Jean-Paul Civeyrac, de quem os habitués da Mostra deverão se lembrar por TODAS ESSAS BELAS PROMESSAS, exibido na seleção de 2003, e o veterano Claude Lelouch, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes com o chabadá romântico de UM HOMEM, UMA MULHER, em 1966, e, desde então, colocou-se na desconfortável posição de saco de pancada da crítica. Na França, ele chegou a ser definido como profissional do amadorismo - a retrospectiva vai, finalmente, resgatar um grande autor?
Pode ser que a semelhança física não agrade a um nem a outro, mas à distância você poderá confundir Lelouch com Serge Toubiana, ex-redator-chefe de Cahiers du Cinéma e diretor da Cinemateca Francesa, que vem para os debates em torno ao papel da crítica, que toma como base o pensamento, quase que totalmente desconhecido no Brasil, de Serge Daney, que foi redator-chefe de Cahiers antes de Toubiana (morreu em 1992) e que é considerado o homem que resgatou a revista do maoísmo radical dos anos 60/70. Se o cinema é uma estética política, Cahiers se interessava mais pela política - Daney reorientou-a para a discussão estética. Ele será agora apresentado ao estudioso brasileiro não apenas no debate, mas também por meio de um lançamento da já tradicional parceria da Mostra com a Cosac Naify - A Rampa, seleção de escritos do autor.
A Mostra de 2007 vai promover algumas exibições especiais - o filme/evento BRAND UPON THE BRAIN, de Guy Maddin, que estreou no Festival de Berlim, em fevereiro, e desde então correu mundo, com sua ambiciosa mistura de telão, onde é projetado um filme que o diretor realizou como se fosse mudo, e performances ao vivo com atores e orquestra; e a versão restaurada do clássico TABU, que misturou o gênio do kammerspiel (o cinema de câmara) Friedrich W. Murnau, içado do expressionismo, com a grandeza do documentarista Robert Flaherty. Há 76 anos os críticos e historiadores discutem, afinal, quem é o autor deste filme nascido de uma união tão improvável. Independentemente, ou não, de querer entrar na polêmica, você poderá simplesmente viajar nas imagens de um dos mais belos filmes do cinema. Para completar, o israelense Amos Gitai e sua roteirista Marie-Jose Sanselme ministram a oficina deste ano, na Faap, e a Mostra ainda apresenta uma seleção do Festival de Uagadugu, em Burkina Faso, com o melhor do cinema africano.
Por Luiz Carlos Merten & Leon Cakoff
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