VENEZA: Apesar da trovoada tropical que abateu aqui no Lido de Veneza, que mais parecia um dilúvio, a competição aqueceu com dois filmes bastante tórridos. Dois anos depois de O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN, Ang Lee regressou com LUST, CAUTION, um filme falado em mandarim, protagonizado por duas estrelas asiáticas (Tony Lung e Wang Lee-hom), e com produção norte-americana. LUST, CAUTION é um filme intenso, um thriller erótico de espionagem, passado entre Xangai e Hong-Kong na II Guerra Mundial, e ao mesmo tempo uma vibrante história de amor em que os protagonistas oscilam entre a razão e os sentimentos. O filme têm cenas eróticas explícitas e muitos já lhe chamam um espécie de ULTIMO TANGO EM PARIS, da atualidade.
Não menos insólito e contraditório é SLEUTH, de Kenneth Branagh, o remake do ultimo filme de Mankievitz, rescrito por Harold Pinter, e interpretado por Michael Caine e Jude Law, com Caine agora numa inversão de papéis em relação ao original. Este novo filme é diferente para melhor, na recriação dos ambientes de alta tecnologia da casa onde se desenvolve o jogo de alto risco entre os dois protagonistas e onde Jude Law, um ator muitas vezes menosprezado, transcende-se na interpretação de Milo, o amante da dona da casa que nunca vemos. O final é absolutamente imprevisível, depois de ao longo do filme assistirmos às mais diversas reviravoltas.
Uma das seções paralelas mais badaladas é a dos faroestes à moda italiana, que tem em Sergio Leone seu nome mais reluzente. A projeção de POR UM PUNHADO DE DÓLARES, com Clint Eastwood, fez sucesso. E realmente foi um acontecimento rever esse filme em cópia zero km, brilhando de nova. Detalhe: o restauro custou 270 mil euros, mais do que o orçamento original do filme lançado em 1964. Na época, Clint recebeu um cachê de módicos US$ 15 mil.
E ontem no Pachuka, um dos mais famosos locais de animação aqui do Lido, houve uma festa de arromba, intitulada Viva Quentin!, o padrinho da retrospectiva, que esteve lá e até comeu muito spaghetti como a maioria dos convidados, ao som de remix de Enio Morriconne e com muita Pulp Dogs music a recordar também os filmes de Tarantino.
Fora de concurso, Veneza expõs REC, dos espanhóis Juame Balagueró e Paco Plaza, dando nova originalidade às infinitas variantes dos filmes de terror. Neste o filme só existe enquanto uma câmera de vídeo, de reportagem de uma televisão espanhola, está gravando, com o comando rec apertado. O que começa como uma reportagem sensacionalista para um programa de madrugada, acompanhando plantões de um quartel de bombeiros, termina com extremos chocantes de violência e vampirismo em um pacato edifício residencial cercado e isolado em quarentena.
Um dos orgulhos do Festival de Veneza é ter escolhido um júri composto apenas por cineastas para a comemoração dos seus 75 anos. Pois para o decano da crítica italiana, o influente Tullio Kezich, foi péssima idéia: "Cineastas são os piores juízes dos filmes alheios", dispara. Segundo Kezich, poucos deles vão regularmente ao cinema, não gostam de discutir os filmes e são intolerantes com visões de mundo diferentes das suas.
E mais uma preocupação para Veneza: já assediada pela concorrência do Festival de Toronto e pela Festa do Cinema de Roma, vê-se agora ameaçada por Torino, que tem em sua direção ninguém menos que o cineasta Nanni Moretti e começa em 23 de novembro.
Por Leon Cakoff (Mostra SP), Luiz Zanin Orocchio (Estado de São Paulo) e José Vieira Mendes (Premiere)
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Um comentário:
Acredito que "Lust, Caution" seja um forte candidato ao prêmio máximo, mesmo que alguns críticos tenham reclamado de sua longa duração e de algumas cenas de sexo (de qualquer forma, adorei "Brokeback Mountain" e aguardo ansioso por esse novo trabalho do Ang Lee). É claro que ainda não vi, mas não coloco muita fé nesse "Sleuth" para conquistar prêmios no Festival - quem sabe o Michael Caine é premiado...
Acho que "Redacted" é o favorito até então, mas muito ainda está por vir...
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