30.8.07

O que vão fazer com os Leões?

VENEZA: Este é uma das primeiras curiosidades dessa Veneza 64, já que as figuras dos Leões que estão habitualmente perfilados, no tapete vermelho da entrada do Palácio do Cinema, têm andado de um lado para o outro sem muito bem saberem o que fazer. Isto é, se estivessem nos seus lugares originais, tapariam uma bela escultura de um globo colocado no interior da falsa parede do Palácio, e que comemora os 75 anos do mais antigo Festival de Cinema do Mundo.

Quanto aos filmes, a abertura como já tinha sido anunciado, coube ao filme de origem britânica, DESEJO E REPARAÇÃO, de Joe Wright. É uma história em três tempos (anos 30, II Guerra Mundial, e atualidade) em que uma autora de renome Briony Tallis, escreve o último romance da sua vida, contado ao longo do filme, tentando expiar a sua culpa na infância, sendo responsável pela tragédia sentimental da irmã mais velha Cecile. Depois de ORGULHO E PRECONCEITO, Joe Wright, adaptou, com a ajuda de Christopher Hampton (o argumentista de LIGAÇÕES PERIGOSAS) mais um grande romance, e de díficil adaptação para o cinema.

DESEJO E REPARAÇÃO é um filme comovente, uma história de amor, algo formalista à boa maneira britânica, mesmo com flashbacks narrativos, e que conta com belíssimas interpretações de Keira Knightley e James MacAvoy, além de uma fabulosa aparição final de Vanessa Redgrave, que dá voz á escritora aos setenta anos. Um filme que certamente estará na corrida aos Oscar.

Takeshi Kitano, apresentou-se aqui no Lido, com GLORY TO THE FILMAKER, fora de competição, mas não menos importante, até porque se trata de um filme dirigido aos amantes do cinema. Kitano retorna às suas preocupações existenciais em relação à sua carreira de diretor, questionando-se novamente sobre os clichés da sua própria obra no contexto dos gêneros e do futuro do cinema. Num filme de grande sentido de oportunidade, numa altura em que se manifestam grandes revoluções cinematográficas, Kitano combina uma forma irônica, o melhor da sua arte como ator para fabricar um conjunto de quadros cómicos que representam os mais variados gêneros e sub-gêneros do cinema, que vão da ficção científica, aos filmes de yakusas.

E continuam repercutindo por aqui as declarações da atriz francesa Fanny Ardant, que elogiou as Brigadas Vermelhas, organização de esquerda responsável nos anos 70 por atentados e pelo assassinato de Aldo Moro, então presidente da Democracia Cristã italiana. Assustada com a repercussão de suas palavras, recuou e pediu desculpas. Mas o mal já estava feito. No entanto, o presidente do festival Marco Müller, garantiu que Fanny seria bem recebida em Veneza e estaria até pensando em fazê-la a musa da edição de 2008. "Se ela quiser vir, é claro", disse ele, acrescentando: "Mas sobre as Brigadas, Fanny se equivocou." Fanny Ardant está no elenco de L´ORA DI PUNTA, filme de Vicenzo Marra que concorre ao Leão de Ouro.

Nem mesmo o próprio Müller pode garantir que estará por aqui no próximo ano, ao menos como diretor do festival. Nesta edição está no seu último ano de mandato. E a renovação por mais um período parece problemática. Um nome tem surgido nos bastidores para assumir a Bienal de Veneza, à qual a Mostra está subordinada: o da cineasta Liana Cavani. Mas não existem ainda especulações sobre um substituto de Müller, o que talvez o leve a um mandato-tampão de um ano. O que é certo, ele já disse, é que, após o festival, irá passar uma semana de repouso no Brasil, entre Rio e São Paulo.

Cinema na Itália é coisa séria. Se não fosse assim, o sisudo Corriere della Sera não abriria sua edição de ontem com uma matéria integralmente estampada na capa com o título "O país do Cinema". O texto, de Ernesto Galli della Loggia, analisa a importância que teve o cinema na Itália do século 20, em especial durante os anos em que uma ainda deficiente alfabetização do povo, tornava essa arte o seu principal contato com a própria realidade. A atual indefinição do cinema no país, segundo o articulista, refletiria não apenas uma situação passageira do cinema, mas esta seria o reflexo da prolongada crise de identidade vivida pela nação italiana

Por Francisco Silva (Premiere), Luiz Zannin Orocchio (Estado de São Paulo) e redação do Corriere della Sera

Um comentário:

Anônimo disse...

Pelo que estou lendo, "Atonement" pode até ter chances no Oscar, mas parece que não será premiado em Veneza (que prefere outro tipo de cinema). Se é assim, aposto em "Lust, Caution" - mas ainda não li muitas opiniões a respeito desse filme.

Como sempre a cobertura do Festival está perfeita, parabéns!

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