Berlim (Dia 2): Passado o pandemônio da presença dos Rolling Stones em Berlinale, o 58º festival começou para valer. Primeiro o chinês IN LOVE WE TRUST, de Wang Xiaoshuai, diretor da sexta geração que recebeu o Urso de Prata em 2001, por BICICLETAS DE PEQUIM. Na seqüência, SANGUE NEGRO, de Paul Thomas Anderson, com Daniel Day-Lewis. O filme é longo, quase três horas. Ocorreram problemas técnicos durante a projeção, o que motivou uma certa gritaria de protesto, mas ninguém arredou pé da sala...
Inspirado no clássico da literatura americana "Petróleo", de Upton Sinclair, o filme é um retrato magistral de CIDADÃO KANE, de Orson Welles, em que um homem cria sua fortuna destruindo tudo aquilo que havia contribuído para formá-la.
SANGUE NEGRO conta a história de Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis), desde o momento em que ele escava poços com as próprias mãos, no fim do século 19, no Oeste dos EUA, até se tornar um magnata do negócio que vive sozinho sua velhice em meados do século 20. Entre um tempo e outro, Plainview cria um filho, restabelece relações com um irmão, administra trabalhadores, negocia com sócios e concorrentes de um modo duramente particular -ou como quem enxerga "o pior nas pessoas", segundo suas próprias palavras.
A atuação de Day-Lewis foi premiada com um Globo de Ouro, um SAG e recebeu uma indicação ao Oscar (onde é favorito) e vem sendo freqüentemente definida como magnífica pela crítica dos EUA. Mas não é somente Day-Lewis que brilha... Paul Dano dá um show como o jovem pastor que vive às turras com o trágico anti-herói desta saga.
Anderson e Day-Lewis deram coletiva em Berlim. O diretor afirmou que "fazer um filme é como perfurar um poço de petróleo: Você não sabe se vai conseguir algo bom, mas continua tentando". "E, talvez, quando você consegue algo que parece bom, você fica ganancioso e continua perfurando”.
Mas o diretor não soube tomar como elogio a afirmação que mudou seu estilo. Daniel Day-Lewis veio em socorro do diretor e disse que, se ele muda, é em função das histórias que quer contar, mas a voltagem crítica é a mesma (e até se radicaliza, a cada filme). Quando perguntaram ao ator qual era sua expectativa em relação ao Oscar, foi a vez de P.T. Anderson frisar: “Gostaria que nos dessem todos os Oscars, e não apenas para Daniel”.
Também em competição, IN LOVE WE TRUST conta a história de uma mulher divorciada que descobre que a filha, uma menina de cinco anos, está enferma de leucemia. Embora tanto ela quanto o ex-marido tenham se casado de novo, a heroína lá pelas tantas resolve ter um filho com o ex, na expectativa de que ele possa ser o doador da medula que a garota necessita. A história é digna de uma novela de Manoel Carlos e um personagem, o ex-marido, chega a dizer que se sente dentro de uma “soap opera”.
O que faz a diferença é o olhar de Wang Xiaoshuai sobre a nova China. O ex-marido é um construtor de obras que estão parando por falta de dinheiro. O próprio problema da leucemia infantil preocupa as autoridades e vem sendo motivo de muita pesquisa nos últimos anos. Como diz o diretor, seu filme é universal - ele espera -, mas a realidade que filma é a chinesa. Trabalhando na corda-bamba da emoção, como se evita o melodrama? “É um mérito dos atores, que pesquisaram a fundo para seus personagens”.
A China venceu o Festival de Berlim no ano passado com O CASAMENTO DE TUYA (Também sobre a relação de um casal ameaçada por um problema de saúde) e provocou polêmica com o acossado pela censura LOST IN BEIJIN.
Por Luiz Zanin Oricchio (Estado), Silvana Arantes (Folha) e Agências Internacionais
10.2.08
Sobre Óleo e Novelas Chinesas
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Um comentário:
"Sangue Negro", finalmente, estréia no Brasil nesta semana. Espero que passe nos cinemas daqui.
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