14.2.08

No dia de Madonna

Berlim (Dia 7): CAOS CALMO não seria o novo filme de Nanni Moretti. Foi dirigido por Antonello Grimaldi e adapta um romance de Sandro Varonesi, mas poderia ser. No entanto, os holofotes de Berlim não foram do ator e diretor italiano... Nem do japonês Yoji Yamada, que teve o azar de ver sua sessão de imprensa de KABEI (adaptação de uma antiga história de Kurosawa) coincidir com outra, muito mais disputada, que lotou a ponto de muita gente sentar no chão do Cinestar 3.

Trata-se de mais um momento punk-rock em Berlim, e tudo por causa de uma pergunta: Madonna é capaz de fazer um filme? Sim, ela é. Embora não signifique que seja bom... FILTH AND WISDOM, precede a arrogância de uma diva que acha que sabe fazer de tudo e a quem ninguém ousou dizer que seria uma péssima idéia. (Provavelmente, seu marido, o diretor Guy Ritchie, até a encorajou!).

Mas surpreendentemente, FILTH AND WISDOM não é uma catástrofe: É uma fita anônima e inconseqüente, com direito a tudo de produção barata, como filmagem digital, atores desconhecidos e roteiro “zen” básico sobre a necessidade de equilíbrio nas nossas vidas entre luz e escuridão, céu e inferno. Ou seja, o fetichismo S&M pode ser o caminho da sabedoria!

Para desespero de muitos, há filmes piores. O que salva FILTH AND WISDOM da irrelevância é a presença carismática do novo afilhado e cúmplice da cantora: Eugene Hutz, líder da banda Gogol Bordello, interpretando um personagem que por acaso é cantor e líder de uma banda chamada Gogol Bordello.

O filme gira à sua volta e sua performance de mafioso-gigolô recém fugido da Ucrânia carrega o filme nos ombros, mas não é suficiente para levar FILTH AND WISDOM além de uma mera curiosidade que nessa gelada Quarta-Feira tirou os holofotes de CAOS CALMO, o tal filme que não é de Nanni Moretti, mas poderia ser...

A fita de Antonello Grimaldi é uma espécie de "variação" sobre a matriz do luto e da dor dO QUARTO DO FILHO. Poderia se chamar O BANCO DO PAI, porque é num banco de jardim que Moretti passa o filme, como um executivo de televisão, cuja mulher morreu inesperadamente. Ele internaliza o vazio passando os dias sentado no tal banco de jardim. É uma espécie de "Moretti light", igualmente inteligente no modo como trabalha com sutileza a convenção do melodrama, mas um pouco convencional, mais enfabulado e menos inspirado - talvez seja injusto fazer a comparação, mas a presença do ator/diretor no papel principal (bem como sua colaboração no roteiro) a torna inevitável. E a verdade é que o filme de Antonello Grimaldi não desmerece os pergaminhos de seu ator, atento e generoso, impecável na placidez do seu homem que reage à maior dor da sua vida recolhendo-se para dentro de sua concha. É um filme que merece um olhar mais atento (e vai tê-lo) - mas teve o azar de ser mostrado no dia de Madonna.

2 comentários:

Kamila disse...

Madonna agora quer dar uma de diretora??

Li sobre "Caos Calmo" no blog do Cassiano e achei uma história bem interessante. Percebi a semelhança de temas entre o filme e "Quarto do Filho" e até pensei que o filme também tinha sido dirigido pelo Moretti.

Anônimo disse...

Madonna como diretora? Isso tem cheiro de furada... Se nem boa atriz ela foi, imagina então atrás das câmeras. Mas vai que se revela uma nova Sofia Copolla, nunca se sabe, hahaha.

E amo "O Quarto do Filho", um dos meus filmes estrangeiros favoritos, portanto devo gostar desse novo trabalho do Moretti por sua temática.

by TemplatesForYou
SoSuechtig,Burajiru