A lenda do contrabandista de heroína, pai de família, assassino e líder cívico Frank Lucas foi contada pela primeira vez em um artigo da New York Magazine escrito há sete anos pelo jornalista Mark Jacobson. O produtor executivo Nicholas Pileggi, roteirista de CASSINO e OS BONS COMPANHEIROS, havia apresentado Jacobson a Frank Lucas, que contou pessoalmente ao jornalista sua impressionante ascensão e queda.
Fascinado pelo artigo de Jacobson, o produtor vencedor do Oscar® de Melhor Filme por UMA MENTE BRILHANTE Brian Grazer ofereceu o projeto de um longa-metragem sobre a vida de Frank Lucas à Imagine Entertainment e, em seguida, convidou o vencedor do Oscar® por Melhor Roteiro Adaptado por A LISTA DE SCHINDLER Steven Zaillian para escrever o enredo. Zaillian passaria meses em contato com Lucas e seu implacável perseguidor Richie Roberts a fim de dar forma a uma história que abrangeu décadas. Para Grazer e Zaillian, o interesse não era apenas em Lucas – que acumulou dezenas de milhões com o tráfico de drogas – mas também em Roberts, cujo próprio destino acabou emaranhado com o do criminoso.
O ator abordado para viver Frank Lucas foi o vencedor do Oscar® de Melhor Ator por DIA DE TREINAMENTO e Melhor Ator Coadjuvante por TEMPO DE GLÓRIA Denzel Washington. Inicialmente, Washington criou resistência em retratar um homem cuja ascensão ao poder significou a morte de tantas pessoas, mas depois ficou cativado pelo roteiro e aceitou interpretar o personagem principal.
Mas ele ainda esperaria alguns anos para levar o papel às telas pois, em 2004, antes de começar a filmar, a Universal Pictures suspendeu o desenvolvimento de O GÂNGSTER. O produtor Grazer conta: "Fiquei arrasado por uma semana. Mas ainda acreditava no filme." E, com determinação, ele conseguiu trazer o diretor Ridley Scott (GLADIADOR) para o projeto, reativando-o. "Fui em frente com toda minha energia e dedicação. Tinha levado o roteiro a Scott sete ou oito vezes, e ele sempre gostava dele, mas o timing nunca era certo. Dessa vez – a nona ou décima – ele disse ‘sim’", explica Grazer. O diretor pediu que Richie Roberts fosse vivido nas telas pelo vencedor do Oscar® de Melhor Ator por GLADIADOR Russell Crowe e que Denzel Washington retornasse ao projeto para viver Frank Lucas. "Brian me disse que tinha conseguido Ridley. Ele é um dos melhores diretores atualmente, não dá para recusar", conta Denzel Washington, que finalmente começaria a interpretar o homem que foi de ladrão de galinhas a rei do Harlem.
O ator conta como se preparou para viver esse polêmico criminoso visto tanto como mártir quanto assassino: "Entrei em um quarto com Frank, liguei o gravador e conversei com ele. Mas eu disse: ‘Não me conte nada que eu não precise saber. Não quero ter que depor’", diz Denzel Washington. "O que me intrigou na história foi que ela não glorifica um traficante de drogas, e eu disse isso a Frank quando nos conhecemos", acrescenta o ator, que escreveu a passagem bíblica Isaías 48:22 ("Não há paz para os ímpios, diz o Senhor") em seu roteiro para lembrar-se da jornada e busca por redenção de Lucas.
Quanto à sua visão do filme, Russell Crowe conta que ficou interessado na forma como a história de Zaillian capta o tempo e local de uma corrompida Nova York. A corrupção era tão comum na Unidade Especial de Investigação de Narcóticos (SIU) que, segundo o artigo do jornalista Mark Jacobson, “em 1977, 52 dos 70 agentes que trabalhavam na divisão estavam ou na prisão ou indiciados”. Roberts era exceção à regra, e Crowe admirou isso.
Com os dois protagonistas escolhidos, a produção passou a buscar atores para interpretar os mais de 30 papéis do elenco de apoio, desde a família de Frank Lucas – cujos verdadeiros nomes e parentescos foram mudados no filme – até os inimigos do criminoso. O irmão mais novo e braço direito de Lucas, Huey, foi vivido por Chiwetel Ejiofor. "Ele era o parceiro de Denzel em PLANO PERFEITO, então já tinham um ótimo relacionamento de trabalho", diz Grazer. Outros integrantes da família Lucas com papéis proeminentes no filme incluem dois músicos relativamente novos no cinema: o rapper Common (A ÚLTIMA CARTADA) como o irmão de Frank, Turner, e o artista emergente de hip-hop T.I. como o sobrinho de Frank, Stevie.
Scott ficou impressionado com a forma como eles se adequaram às demandas de um filme: "Parece que atuar é um passo natural depois de cantar." A matriarca da clã, Mama Lucas, é a lendária Ruby Dee (FAÇA A COISA CERTA, indicada ao Oscar pelo papel). A atriz que cresceu no Harlem observa: "A época de Frank Lucas que O GÂNGSTER aborda me parece mais uma memória do que um filme." Para viver Eva, ex-Miss Porto Rico que Lucas gentilmente seduz para a vida do crime e com quem se casa, Scott convidou Lymari Nadal. A porto-riquenha formada em Química antes de virar atriz conheceu Eva pessoalmente e diz: "Tentei transmitir a forma como ela vê a vida. O mais importante para ela, eu acho, é sua história de amor e o quanto podia comprar, ou quanto dinheiro podia ter."
No lado oposto da família de Frank Lucas, estão seus desafetos. O vencedor do Oscar® de Melhor Ator Coadjuvante por JERRY MAGUIRE – A GRANDE VIRADA Cuba Gooding, Jr. foi chamado para interpretar o maior rival de Lucas no tráfico de heroína, Nicky Barnes. O ator resume o apelo tanto de Barnes quanto de Lucas: "Eles eram vistos como duas celebridades. Hoje as celebridades são esportistas ou atores, mas, naquela época, eram traficantes." Caracterizando o mafioso do dia, Armand Assante interpreta Dominic Cattano, a "pedra no sapato" de Lucas que, como todo mundo, fica chocado ao ver que um negro conseguiu levar heroína pura e mais barata para as ruas. "Cattano é um homem poderoso que acredita que ele e seu negócio estão acima da lei e de qualquer concorrente", explica Assante. Outro problema para Lucas é o policial Trupo, interpretado por Josh Brolin (ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ). O ator ficou curioso em examinar a mente desse "criminoso com um distintivo" que deixava qualquer pessoa vender drogas nas ruas, desde que recebesse um pesado suborno.
O detetive policial Richie Roberts, ao contrário do agente Trupo, era rigoroso na luta contra o crime. Escolhido para chefiar a Unidade Especial de Investigação de Narcóticos do Condado de Essex, Roberts precisa formar um grupo de agentes tão espertos quanto os criminosos que eles perseguem. Para esses papéis, Scott e Grazer convidaram os veteranos John Hawkes e Yul Vazquez, assim como RZA, co-fundador do grupo de hip-hop Wu-Tang Clan. Hawkes, que vive o detetive Spearman, entendeu que a agência liderada por Lou Toback, interpretado pelo ator veterano Ted Levine, foi "uma precursora do DEA [Drug Enforcement Administration], uma das primeiras forças-tarefas federais anti-drogas."
Mas, enquanto a vida profissional de Richie Roberts decola, a pessoal desmorona. Carla Gugino vive Laurie, a mulher de Roberts que decide deixá-lo. "Ela tenta pensar que ele vai mudar, mas percebe que isso não acontecerá e resolve morar com a irmã em Las Vegas, levando com ela o filho do casal", conta a atriz.
Com o elenco principal escolhido, Scott, Grazer e o desenhista de produção Arthur Max (CRUZADA e GLADIADOR) iniciariam o detalhado processo de recriar o Harlem e Vietnã do final dos anos 60 e início dos 70. A tarefa era ambiciosa, mas para Scott nada parecia impossível, nem mesmo filmar em 152 locações diferentes com quase 100 atores interpretando papéis com falas. A idéia do diretor era, como ele explica, "fazer tomadas abertas para conseguir um panorama geral do Harlem". Usando principalmente câmeras móveis, o diretor de fotografia Harris Savides (ZODÍACO e ELEFANTE) seguiu o que Scott descreve como um estilo "guerrilha de filmagem". Savides encarou o desafio de trabalhar com a costumeira propensão do diretor em usar o recurso multicâmera e rodou quase todo o filme em locações reais. Já o desafio do desenhista de produção Max foi encontrar as partes de Nova York que ainda lembravam a cidade do início da década de 70.
Para Frank Lucas, filmar no Harlem foi uma viagem a seus dias de glória – apesar de nem todos os seus antigos vizinhos terem lhe dado boas-vindas de herói. No set praticamente todos os dias, Lucas ficava sentado em sua cadeira-de-rodas, cercado pela família e pela nostalgia. Já a sensação de Russell Crowe durante as filmagens, num verão de mais de 38 graus, foi bem diferente de "nostálgica". "Subi e desci escadas usando um jeans da Levi’s com modelagem dos anos 70 no calorão de Nova York", diz o ator, que acabou com a calça encharcada de suor e, como ele explica, "tão justa que podia prender a circulação".
Uma das maiores cenas do filme foi a recriação da primeira luta entre Muhammad Ali e Joe Frazier no Madison Square Garden. Filmada no Nassau Veterans Memorial Coliseum em Long Island, a arena de mais de 16 mil cadeiras foi preenchida com figurantes em roupas de época – muitos atuando como os famosos que estiveram presentes naquela noite histórica. "Levamos semanas até encontrar as pessoas certas para os sósias das celebridades", explica o diretor de elenco de figurantes Billy Dowd. "Fomos a agências de sósias de celebridades, colocamos anúncios na Show Business e Backstage, jornais e Internet. Alguns foram muito difíceis de encontrar; alguns simplesmente vieram até nosso escritório." O filho de Arthur Mercante, o árbitro daquela luta, fez o papel do pai nas filmagens. Se encontrar as pessoas certas para representar as celebridades foi um desafio, vestir quase mil figurantes foi um feito para a figurinista vencedora do Oscar® por GLADIADOR Janty Yates "Usamos fotos do evento e fizemos réplicas de muitos trajes", explica Yates. "Percorremos Nova York em busca de smokings e vestidos de festa daquela época."
Além da cena da luta, foi também em Long Island que uma casa serviu de locação para o lar de Dominic Cattano. Já a real locação da suntuosa casa que Lucas compra para a mãe e da fazenda da família na Carolina do Norte foi o subúrbio Briarcliff Manor, a uma hora de Manhattan. E, quando as filmagens nos Estados Unidos terminaram, a produção viajou para o norte da Tailândia onde, a aproximadamente duas horas da cidade de Chiang Mai, foram filmadas cenas da viagem de Lucas aos campos ricos em ópio do Triângulo Dourado – interseção entre Burma, Tailândia e Laos. A equipe do desenhista de produção Max montou uma tradicional vila tailandesa e um celeiro de arroz no meio do campo de amendoim para representar o centro de processamento de ópio onde Lucas fecha seus primeiros acordos com fornecedores militares de drogas, permitindo que o criminoso compre diretamente da fonte e leve para os EUA quilos de heroína em fundos falsos de caixões que transportavam corpos de soldados.
Quanto à trilha sonora de O GÂNGSTER, o diretor Scott e o produtor Grazer buscaram músicas que representassem a realidade do mundo de Frank Lucas. "Queria que o filme trouxesse canções de lado-B de discos da época", diz Grazer. Ainda na área musical, depois de ver uma exibição inicial do filme, Jay-Z, astro do rap e presidente da Def Jam Records, ficou tão emocionado com o retrato de Denzel Washington como Frank Lucas que criou músicas inéditas inspiradas em suas próprias experiências passadas como bandido e traficante, uma vida de alguma forma paralela à do gângster Lucas dos anos 70. O trailer do filme já estava usando "Heart of the City", uma música mais antiga de Jay-Z, quando ele tomou essa decisão.
Com a filmagem principal, edição e trilha sonora finalizadas, a equipe e elenco de O GÂNGSTER chegam ao fim de uma jornada que teve início com um jovem humilde da Carolina do Norte que alcançou grande poder na cidade de Nova York. Sobre o que espera em relação ao público, o diretor do filme Ridley Scott diz: "Espero que se sinta completamente envolvido com esses dois grandes atores e com a forma como eles nos levam ao mundo dos dois personagens."
Cortesia da Paramount Pictures
25.1.08
Notas de Cão e Gato no Submundo
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Um comentário:
Vi o filme ontem e não gostei nem um pouco. Acho que tenho problema com os filmes policiais da atualidade. Também não gostei de "Os Donos da Noite", e esse "O Gângster" é ainda pior. Decepção total... E o maior absurdo desse Oscar foi a Ruby Dee ser indicada para coadjuvante.
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