15.11.07

Os Sonhadores - Parte 3/8

Da intuição até o domínio absoluto da técnica, do som como elemento definidor à pressão dos grandes estúdios, oito diretores fundamentais explicam seu trabalho e apontam as tendências da sétima arte, numa série especial sobre a arte de dirigir especialmente criada em comemoração aos 4 anos da Rede Spoiler!

David Cronenberg (1943), é canadense, autor de filmes com ambientação aterrorizante e de suspense. Ganhou popularidade com SCANNERS (1981), onde telepatas têm o poder de explodir cabeças. Dirigiu também A MOSCA (1986), VIDEODROME (1983), CRASH (1996), MARCAS DA VIOLÊNCIA (2004), entre outros. Eis suas impressões em entrevista exclusiva para SPOILER!

CRONENBERG, Escrita é arte maior

Pode parecer chocante, mas em algum lugar acredito que continuo considerando a literatura uma arte superior ao cinema. É provavelmente por esnobismo ou porque, como disse antes, sempre pensei que minha carreira "séria" seria escrever romances e que o cinema seria apenas um hobby, uma coisa que eu faria paralelamente. Ao mesmo tempo, quando conheci Salman Rushdie [escritor britânico, autor de VERSOS SATÂNICOS], que considero um dos autores mais ricos e mais intensos de sua geração, pedi sua opinião.

Isso me parecia ainda mais interessante porque ele cresceu na Índia, onde o cinema tem uma importância cultural enorme. Então lhe perguntei se ele considerava a literatura uma arte superior ao cinema, e ele me olhou como se eu fosse louco. Ele disse que pensava exatamente o contrário e que estaria disposto a tudo para poder realizar um filme. [...]

A câmera é um ator

Na primeira vez em que me encontrei em um set de filmagem, lembro-me de ter ficado aterrorizado com a idéia de espaço, porque, se a escrita é um universo bidimensional, o cinema é tridimensional.

Não falo da imagem, é claro, mas do set. É um universo onde é preciso gerar não apenas o espaço mas também a relação das pessoas e dos objetos nesse espaço e organizar tudo para que seja eficaz e para que, além disso, tenha sentido.

Pode parecer abstrato dito assim, mas, quando estamos diante do problema, acredite-me, é muito concreto. Pois a câmera ocupa seu próprio lugar nesse espaço, ela é como mais um ator.

E em muitos filmes de estréia eu noto o mesmo defeito: a incapacidade de dançar com a câmera, de traduzir corretamente essa espécie de balé gigantesco formado por todos os elementos de um set de filmagem. Por outro lado, o que é formidável é que a maioria das decisões a serem tomadas vêm de maneira completamente instintiva. [...]

Quanto mais filmes faço, mais sinto vontade de rigor e purismo ou de minimalismo. É por isso que um filme como EXIZTENZ [1999] é filmado quase totalmente com uma única lente, no caso a de 27 milímetros. Quero ser simples e direto, à maneira de um [Robert] Bresson [1901-99] e, por outro lado, o oposto completo de um Brian de Palma [1940], que vai constantemente buscar uma maior manipulação da imagem e uma maior complexidade visual.

Não critico o que ele faz, mas é outra abordagem. Também nunca utilizo o zoom, porque para mim é somente um brinquedo ótico. Então, quando movimentamos a câmera, a mudança de perspectiva o projeta fisicamente no espaço do filme. Novamente, o zoom tem alguma coisa de bidimensional que não corresponde à minha idéia de cinema.

Por David Cronenberg, direto para SPOILER

SPOILER
4 Anos
26.11.03 ~ 26.11.07

Nenhum comentário:

by TemplatesForYou
SoSuechtig,Burajiru