17.10.07

Um guia Doc da Mostra

São Paulo: Sinal dos tempos: tanto a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa sua 31ª edição no dia 18, quanto o recém encerrado Festival do Rio ampliaram consideravelmente neste ano o número de documentários exibidos. Nos dois casos, ficaram perto da centena, com ligeira vantagem para o evento paulistano.

É um justo reflexo do crescimento da produção não-ficcional na cena audiovisual planetária. O documentário continua marginal, mas captura hoje uma atenção inédita na história do gênero. Basta ver o espaço conquistado em festivais do porte de Sundance, Cannes, Toronto, Berlim e, um pouco menos, Veneza.

Tudo isso sem falar dos festivais específicos, como nosso É Tudo Verdade. O evento bienal japonês de Yamagata comemora nesta semana sua décima edição.

Leipzig celebra 50 anos daqui quinze dias. O gigantesco IDFA de Amsterdã completa duas décadas em novembro. O circuito doc nunca esteve tão forte, inclusive pela constante adição de novos endereços de sucesso, como o Docslisboa que abre sua quinta edição na semana que vem.

No caso específico da Mostra de São Paulo, a recente ampliação fortalece uma abertura para o gênero presente em seus trinta anos de história. O cardápio deste ano é rico e variado, com notável atenção para a produção nacional, que representa nada menos que um quinto dos documentários programados.

Cumpre destacar dez títulos de peso, em cartaz aqui entre o próximo dia 19 e 1º de novembro, com ingressos à venda a partir deste fim de semana.

BRANDO, de Mimi Freedman e Leslie Grief – Um cativante mergulho na vida de um dos maiores atores do século 20, com valiosos materiais de arquivo.

CONDOR, de Roberto Mader – Eis finalmente um pioneiro e didático mergulho nacional no Mercosul do terror que reuniu oito ditaduras militares do continente, incluindo a brasileira. Prêmio Especial do Júri em Gramado e melhor documentário da Première Brasil no Rio.

CAMPOS DE MORANGO, de Ayelet Heller – Uma visão microscópica do beco-sem-saída do conflito no Oriente Médio. Palestinos que sobrevivem plantando morangos para exportação na faixa de Gaza têm seu cotidiano perturbado pela rotina de bombardeios, controles militares e oscilações políticas.

CARTAS A UMA DITADURA, de Inês de Medeiros – Uma original revisita ao regime autoritário de Salazar em Portugal, dos anos 1930 aos 70, a partir da correspondência enviada por mulheres ao ditador.

DE VOLTA À NORMANDIA, de Nicolas Philibert – Um estudo sobre o impacto do cinema sobre a vida de seus intérpretes eventuais. Philibert reencontra, passado um quarto de século, os habitantes que trabalharam como atores amadores nas filmagens de “Eu, Pierre Rivière, que matei minha mãe, irmã e irmão”, de René Allio, nas trabalhou como assistente de direção.

JOGO DE CENA, de Eduardo Coutinho, e Juízo, de Maria Augusta Ramos – Dois documentários nacionais desafiam as fronteiras entre ficção e não-ficção. O mestre dos mestres embaralha o depoimento de mulheres simples e a atuação de atrizes conhecidas. Ramos, por sua vez, empresta a face de intérpretes adolescentes para reencenar as lacunas dos registros de julgamento de menores infratores que legalmente não podem ter seus rostos expostos.

LOST, LOST, LOST, (1976), de Jonas Mekas – O terceiro dos filmes-diários do grande cineasta experimental americano de origem lituana, em cópia restaurada. Da chegada de Mekas em Manhattan em 1949 até os agitos de meados dos anos 1960, esta autobiografia em “home movies” a um só tempo pesquisa os mecanismos da memória e radiografa o turbilhão novaiorquino, da patota de Andy Warhol à resistência à guerra no Vietnã.

NAKING, de Bill Guttentag e Dan Sturman– Na aurora da Segunda Guerra Mundial, no segundo semestre de 1937, o Japão de Hiroito invadiu a China ainda capitalista. Nanking, a então capital, se tornou palco de um dos maiores massacres da história asiática. Estimam-se 200 mil mortos e 20 mil mulheres estupradas. Testemunhos da época, entrevistas com sobreviventes e dilacerantes cenas de arquivo combinam-se numa lição de barbárie a jamais esquecer.

Retrospectiva Jia Zhang-Ke – Nenhum olhar sobre a China contemporânea supera em rigor e frescor o do jovem Jia. Suas ficções (PLATAFORMA, PRAZERES DESCONHECIDOS, O MUNDO, EM BUSCA DA VIDA) e seus documentários (DONG, INÚTIL) iluminam-se e complementam-se, sempre indagando o que é ser jovem na China socialista-capitalista arquitetada por Deng Xiao-Ping (1904-1997).

SICKO, de Michael Moore – O mais famoso dos documentaristas escansa a artilharia contra Bush para apresentar uma bem-humorada radiografia do desastroso sistema de saúde dos EUA. Perdoe-se o ingênuo escorregão do episódio cubano, na mais bem articulada das obras de Moore.

Por Amir Labaki (Valor Econômico)

3 comentários:

Anônimo disse...

Pra variar, no auge da minha ignorancia cinéfila, eu só conheço o Sicko, mas não por ter visto, e sim por causa do reboliço todo que teve com a ida dele a cuba com os nhansnhansnhans (eu não lembro a profissão dos caras:p).

Sobre o prêmio spoiler, meu e-mail é: naioria@gmail.com

Marfil disse...

Olha André, Os documentários aqui no blog nunca foram muito populares. Mas é um gênero que cada vez está mais forte e criativo. SICKO é imperdível, além de irreverente. Destaco tbém BRANDO, WAR/DANCE e ZOO. São filmes que certamente estarão nas locadoras nacionais em 2008

Anônimo disse...

Os documentários nunca foram meu forte, mas quando passa algum pelo cinema daqui faço tudo para ver - esse ano só conferi "A Ponte", "Cartola" e "Faixa de Areia", mas ainda tenho que ver muitos outros, ao menos em DVD. Tenho muita curiosidade quanto a "Sicko", pena que só estréia por aqui no próximo ano.

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