22.8.07

"Não há filmes amorais", diz Greengrass

Com óculos redondos, cabelos desgrenhados e uma camisa pólo azul que não chega a cobrir a proeminente barriga, o cineasta Paul Greengrass, 52, se considera um subversivo.

Seu mais novo filme, O ULTIMATO BOURNE, terceiro capítulo da série sobre o angustiado ex-agente da CIA Jason Bourne, vivido por Matt Damon, estréia nesta sexta no Brasil, após ter arrecadado US$ 131,6 milhões nas bilheterias em apenas duas semanas nos EUA.

"A melhor definição que encontrei para Bourne é a de franchising subversiva. Fui surpreendido em Hollywood. Aqui fiz sempre o que quis. Bourne não é James Bond. Ele tem um componente moral fortíssimo, está corroído pelo remorso, sabe que fez algo condenável e busca desesperadamente a redenção", diz Greengrass.

As cenas de ação de O ULTIMATO BOURNE, passadas nos quatro cantos do mundo (Rússia, Inglaterra, Marrocos, EUA, França, Alemanha), buscam o impacto. "O tema de meus filmes é um só: o mundo como ele é. Urgente, perigoso, incerto."

Em 2002, o diretor escreveu no jornal inglês "The Guardian" um texto em homenagem a seu conterrâneo Alan Clarke (1935-1990), onde afirmava que as qualidades essenciais de um grande diretor estão ali: a ausência de notoriedade pública, a compaixão e a subversão.

Seus filmes expõem as incongruências dos tempos de George W. Bush com uma intensidade semelhante às obras de Alan Clarke, notório por uma crítica crua a Margaret Thatcher na Inglaterra do fim dos anos 70.

"A compaixão, em meus filmes, se revela tanto em minha aversão ao cinismo quanto no senso de verdade que procuro imprimir. Em VÔO UNITED 93, uma das maiores dificuldades foi retratar aquela tragédia [o seqüestro de um avião no 11 de Setembro] sem apresentar os terroristas como monstros. Não acredito em filmes amorais e talvez este seja um aspecto subversivo de minha obra." A paixão pelo realismo social e a câmera frenética aproximam Greengrass do brasileiro Fernando Meirelles. "CIDADE DE DEUS me impressionou. Na seqüência da galinha, soube que estava diante de um mestre, de alguém que procura, como eu, revelar o pulso da vida."

Greengrass afirma que acredita piamente na relevância do cinema que faz. "Não é que tenha a pretensão de mudar o mundo. Mas acho que a televisão, ao se transformar no refúgio dos reality shows e dos games, deixou para o cinema o papel de contar histórias que revelem de fato quem somos na sociedade. Pense em SYRIANA, BOA NOITE, E BOA SORTE, e nos filmes de Michael Moore. Cabe a nós encarar novamente o cinema como um palco para se debater os grandes temas sociais de nosso tempo. E adoro estar no meio disso", avalia.

O diretor já tem um novo projeto: levar para as telas o livro "The Imperial Life in the Emerald City", do repórter Raji Chandrasekaran, do jornal "The Washington Post". A obra faz um relato cáustico da falência do governo implantado pelos EUA no Iraque depois da invasão de 2003. "The Imperial" terá Matt Damon no elenco.

"O que nos falta para encararmos melhor a divisão forçada do Ocidente e Oriente é um pouco mais de compaixão. A Folha pode me cobrar. Porque só há uma saída para mim: meu cinema precisará transbordar de compaixão ao falar da tragédia do Iraque."

Críticas:

O ÚLTIMATO BOURNE: Caos visual vai à raiz da ação

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito de "O Ultimato Bourne", mas confesso que esperava um pouco mais depois de tantos elogios da crítica. O Greengrass é um dos melhores diretores da atualidade, é fato, mas até agora não me encantei especialmente com nenhum de seus filmes (apesar de adorar "United 93").

Abraço!

Anônimo disse...

O segundo é muito bom, e prova - e acho que essse deve reafirmar- que é bem possível fazer um filme de ação que tenha cerébro. E tomara que o vilão seja tão marcante quanto aos que já houveram.
abraços

Gustavo H.R. disse...

Temos, sim, filmes amorais, como esses horrores pornográficos ao modo de HOSTEL.

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