31.8.07

George, o Magnífico

VENEZA: A assinatura do spot da Martini, citando a publicidade, em que George Clooney contracena com a modelo chilena Leonor Varala, a toureira que castra o touro e que agora começa a passar nas televisões, serve perfeitamente, para caracterizar a interpretação do ator, em MICHAEL CLAYTON, de Tony Gilroy, que como diretor estreia em Veneza.

Clooney num registro, curiosamente muito semelhante a SYRIANA, inclusive na temática do filme, mas agora sobre a corrupção, a especulação financeira e a fusão de empresas, arranca novamente uma notável interpretação, no advogado justiceiro Michael Clayton, um personagem com uma vida privada confusa e instável, mas que não abdica da descoberta da verdade.

MICHAEL CLAYTON é uma filme complexo, à imagem de SYRIANA, mas é também um verdadeiro filme-denúncia, a lembrar um sub-gênero em voga nos anos 70 de Alan J. Pakula ou mesmo Sidney Pollack, (que faz um pequeno papel) e em que o ator, em uma forma altruísta, abdicou do seu cachê, pela importância do papel e desta obra que vai chegar certamente aos Oscar, pela sua diferença.

Por falar em filmes denúncia, Brian De Palma, partiu do YouTube e do blog de um soldado americano em missão no Iraque, para construir, REDACTED, uma ficção-documental, sobre um caso verídico da violação de uma jovem de 14 anos, por cinco soldados americanos em 2006 nos arredores de Mamhudya.

O cineasta italiano Paolo Franchi apresentou NESSUNA QUALITÀ AGLI EROI, com a francesa Irène Jacob, um filme sobre tortura mental. Dois homens, um de meia-idade e outro mais jovem, se identificam no ódio a seus pais. Esse motivo leva o primeiro a deixar a mulher e a declarar-se como autor de um assassinato cometido pelo segundo.

Com LES AMOURS D´ASTRÉE ET DE CÉLADON, o veterano Eric Rohmer busca a linha da fábula pastoril, na qual os dois amantes se desentendem, se separam e acabam se reencontrando depois de muitas situações equívocas. Ambientada no ano 5 d.C., segundo uma narrativa do século 17. È incrível como Rohmer, em idade avançada, consegue manter o frescor de sua narrativa, e valoriza as ambiguidades das situações amorosas.

E Scarlett Johasson, que infelizmente por razões contratuais não vai poder estar no Lido, é a protagonista de THE NANNY DIARIES, de Shari Springer Berman e Robert Pulcini umamoça, que decide ser temporariamente babá numa familia rica de Nova Iorque, em prejuizo de uma carreira à altura dos seus estudos universitários, isto numa doce homenagem à mais famosa ama da história do cinema: Mary Poppins.

Um dia depois de levar um tombo em seu apartamento no Hotel Des Bains, Mario Monicelli, 92 anos, já era visto dando entrevistas no Lido e dizendo gracejos às jornalistas. E falava com a verve de sempre. Sobre DESEJO E REPARAÇÃO, melodrama adaptado da obra de Ian McEwan, e que abriu o festival, o diretor de O INCRÍVEL EXÉRCITO DE BRANCALEONE disse simplesmente que "ficava a um passo do ridículo". Cruel, mas não longe da verdade.

Por falta de verdadeiras polêmicas, os jornalistas pegaram no pé de Kenneth Branagh, diretor de SLEUTH, remake do filme de 1972 de Joseph Mankiewicz. É que, no enredo, o personagem de Michael Caine faz alusões pouco agradáveis sobre as origens italianas do seu antagonista, vivido por Jude Law. Numa delas, diz que os italianos são "uma estranha gente, e a cultura não é o seu forte". Em outra, afirma que "a vingança é natural nos italianos". Kenneth se defende dizendo que esses diálogos estavam no roteiro, não foi ele quem os escreveu e que, no máximo, exprimem o preconceito de um personagem e não do autor. Segundo ele, o roteirista, o prêmio Nobel Harold Pinter, "adora a Itália, e escreveu diálogos com senso de ironia". Mesmo assim, os italianos ficaram mordidos.

Já está sendo divulgada aqui em Veneza a programação da 3.ª Rassegna do Instituto Brasil-Itália, que ocorre em Milão de 10 a 16 de dezembro. O curador Giovanni Ottone confirmou os seguintes longas: CIDADE BAIXA, DESERTO FELIZ, BAIXIO DAS BESTAS, CARTOLA, BOLEIROS 2, OS 12 TRABALHOS, CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS, À MARGEM DO CONCRETO, BATISMO DE SANGUE, O CÉU DE SUELY, EU ME LEMBRO, HÉRCULES 56, ACHADOS E PERDIDOS, ÁRIDO MOVIE E DEPOIS DAQUELE BAILE. Segundo Ottone, a seleção procurou inserir filmes representativos de diversos gêneros e tendências do cinema brasileiro contemporâneo: dramas sociais, comédias, documentários sobre as condições de vida nas cidades e nas favelas.

Por José Vieira Mendes (Premiere), Pedro Butcher (Folha), Luiz Zannin Oricchio (Estado) e Agência EFE

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu adoro "Syriana", top 10 no ano passado. Se "Michael Clayton" for tão bom quanto, é desde já um dos mais aguardados por mim - sempre gosto desse tipo de trama complexa. Acho que o "Redacted" foi o mais elogiado até então, né? Espero que chegue logo ao Brasil.

Abraço!

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