6.3.08

O sangue é vida!


Bram Stoker (1847-1912) teve uma centelha de gênio ao inventar, em 1897, seu vampiro partindo de contos folclóricos da Transilvânia. "Drácula" foi publicado durante o século 19, o espírito romântico vagou num mundo sobrenatural, de tentações e vertigens, em que personagens maléficos sugavam a vida e a energia de seres humanos, por vezes graças ao sangue ingerido.

As lendas sobre o dentuço notívago datam de 1751, mas foi Bram Stoker que realmente as assentou, dando-lhes coerência e firmeza. O mito do vampiro é rapidamente recuperado pelo cinema, no caráter difuso da tradição romântica, do VAMPYR, de Dreyer, à MASCARA DO DEMONIO, de Mário Bava, chegando às últimas metamorfoses inspiradas em Anne Rice.

Mas o conde Drácula impõe-se. Depois de sua transformação no NOSFERATU, de Murnau, nos tempos do cinema mudo, adquire o aspecto que o marcou, em 1931, com o DRÁCULA, de Tod Browning. Bela Lugosi (1882-1956) conferia ao vampiro elegância aristocrática, superioridade em suas atitudes, consciência controlada da sua natureza ou do que poderia se chamar o seu vício. Lugosi possuía uma sedução "old fashioned", mesmo para 1931, se contrapondo ao charme moderno de David Manners, o jovem herói.

Lugosi não conseguiu escapar do papel, interpretando-o em fitas como A MARCA DO VAMPIRO e A VOLTA DO VAMPIRO, até cair no deboche e participar, como Drácula, das comédias de Abbott e Costello. Enriqueceu, tornou-se viciado, morreu pobre. Foi sepultado com a capa preta de cetim.


A imagem de Lugosi envelheceu no pós-guerra: Não é à toa que, no seriado “A Família Monstro", o vovô é calcado sobre ela. Christopher Lee, graças à seqüência de filmes da companhia inglesa Hammer, graças à admirável direção de Terence Fisher em HORROR OF DRACULA (1958), torna atual e erótico o personagem. Desenha-se, de modo transparente, o vampiro concebido como o avesso do Cristo. No último da série, injustamente desconsiderado pela crítica, CONDE DRÁCULA E SUA NOIVA VAMPIRA (1973), dirigido por Alan Gibson, o conde é apanhado por um espinheiro, metáfora imensa da coroa de Cristo, e suas palmas são atravessadas por pontas, como na crucifixão.

E quase 50 anos depois, o também alemão Werner Herzog se inspirou no clássico de Murnau para fazer NOSFERATU, O VAMPIRO DA NOITE (1979). Klaus Kinski, apavorante como Max Schreck, é um vampiro apaixonado e atormentado, que carrega o peso de seu destino e viaja à Alemanha num navio repleto de ratos.

Ambos de 1979, DRÁCULA, de John Badham, com Frank Langella, foi definido o mais lascivo filme de Drácula. AMOR À PRIMEIRA MORDIDA, de Stan Dragosti, com George Hamilton, também envereda pelo humor. Como eles, Jack Palance, David Niven e Louis Jourdan tiveram, com resultados variáveis, seus dias de Drácula.

Houve um Drácula turco, ele já foi ao Velho Oeste e à China imperial, transformou-se no conde Alucard (Drácula ao contrário), Frankenhausen (qualquer semelhança com Frankenstein não é mera coincidência), Yorga e Quejando, apareceu em filmes pornográficos também... ENTREVISTA COM O VAMPIRO, de Neil Jordan (1994), abandona Bram Stoker por Anne Rice. VAMPIROS, de John Carpenter, é um avatar, singular e enérgico.


Os traços muito definidos de Drácula, via Lugosi, Lee e Karloff, descendentes de uma estirpe romântica e gótica, há muito perderam sua eficácia. É mau sinal quando, em 1992, Coppola dirige seu DRÁCULA DE BRAM STOKER. A incorporação do nome dos escritores no próprio título demonstra um desejo filológico de fidelidade ao texto de origem. O recado é este: vamos apagar toda a tradição sem rigor e cheia de variantes dos antigos Dráculas para obter uma versão fidedigna.

A caracterização de Gary Oldman nada deve às de Schreck e Kinski.
Curioso... Drácula exibia uma fina estampa, o monstro do Dr. Frankenstein era feio como a fome. Um era íntegro em sua maldade, o outro nada tinha de inteiro.

Drácula foi criado por um homem. O monstro, por uma mulher (Mary Shelley). Nada em comum e, no entanto, ao menos no cinema, suas "carreiras" são afins.
Quando Browning rodou DRÁCULA em 1931, a mesma Universal rodava FRANKESTEIN, de James Whale. Sem contar que, em O FILHO DE FRANKENSTEIN (1939), de Rowland V. Lee, é Bela Lugosi, o Drácula, quem personifica o criado Igor, tão tétrico quanto o monstro.


Parece que um pressupõe o outro. Foi assim na Universal, assim na Hammer. Quando Paul Morrisey rodava o seu Drácula, ao mesmo tempo filmava FRANKENSTEIN DE ANDY WARHOL. E o próprio Coppola, depois de dirigir DRÁCULA DE BRAM STOKER, produziu FRANKENSTEIN DE MARY SHELLEY (1994), de Kenneth Branagh.

Gostar desse ou daquele filme é uma questão pessoal. Há quem procure um clima gótico e há quem não fique sem o trash explícito - caso de dois terços da produção do gênero. Há quem queira o personagem complexo, vítima da própria condição, e há quem se contente com um Drácula chapado, todo sangue e ruindade.

Mas indiscutivelmente os seis grandes filmes inspirados em Stoker é pela cronologia: NOSFERATU (Murnau), DRÁCULA (Browning), O VAMPIRO DA NOITE (Fisher), AMOR À PRIMEIRA MORDIDA (Dragosti), DRÁCULA (Badham) e DRÁCULA DE BRAM STOKER (Coppola).

Por Jorge Coli, Federico Mengozzi & Arthur Nestrovski

E mais vampiro...
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2 comentários:

Kamila disse...

O meu filme do Drácula favorito, com certeza, é o "Drácula de Bram Stoker", do Francis Ford Coppola!

Anônimo disse...

Puxa , vc citou o Drácula do Badhan com o Frank Langella como conde e Olivier como caçadro do "monstro". Cara, vi esse filme a tempão num corujão da vida e nunca mais achei em DVD - não sei por que, mas achei ele tão bacana, divertidamente kitshie... rsrsrs até hoje me lembro das cenas - e olha que faz tempos paca!
inté! elel tem em dvdv?

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