Berlim (Dia 5): Depois de virar um fenômeno no mercado pirata de DVDs, onde pesquisas indicam que foi visto por 11,5 milhões de pessoas, TROPA DE ELITE ficou tão falado que só o New York Times lhe dedicou duas reportagens. E tudo antes que o filme estreasse nos cinemas. Ontem, o filme aterrissou na Berlinale, mas naturalmente paira uma maldição sobre o filme...
O sumiço da película com legendas em inglês atrasou a sessão de imprensa e instalou um verdadeiro pandemônio no Berlinale Palast. A solução foi a exibição do filme (com muito atraso) com legendas em alemão. Para tradução em inglês, foram usados fones de ouvido. Como poucos falam alemão ou português, formou-se uma fila grande para ouvir as falas do Capitão Nascimento traduzidos por uma mulher... Foi assim que a imprensa internacional viu TROPA DE ELITE e você há de convir que isso altera sensivelmente a possibilidade de adesão a um filme.
No final da sessão, houve um silêncio solene. Para outros filmes na disputa, houveram pelo menos, aplausos, ainda que moderados. É positivo ou negativo para as chances de TROPA DE ELITE no Urso de Ouro? O silêncio, afinal, pode ter sido a expressão da perplexidade que o filme produziu. As sessões para a imprensa determinam a repercussão do filme. É a partir delas que são escritas as reportagens e as críticas. As sessões oficiais competitivas têm público composto por convidados.
Mas a coletiva lotou. Havia muita gente interessada em discutir o filme. O diretor Padilha, o produtor Marcos Prado, os atores Wagner Moura e Maria Ribeiro e o diretor de fotografia Lula Carvalho sentaram-se à mesa. Padilha foi quem mais falou, e tanto ele como Wagner se expressaram em inglês fluente. Padilha é racional até o limite. Em função de toda a polêmica ocorrida com seu filme no Brasil, ele desenvolveu um discurso muito articulado. Ele sabe perfeitamente por que - e como - fez seu filme. Deixa-o claro em todas as suas intervenções.
Não houve comparações com CIDADE DE DEUS. Em compensação, a grande questão, claro, era por que fazer um filme desses do ângulo da polícia? “Meu primeiro longa foi o documentário ÔNIBUS 174, que focalizava os mesmos problemas do ângulo dos excluídos. Um ex-menino de rua seqüestrava um ônibus, o caso foi acompanhado ao vivo pela TV e terminou de forma sangrenta, com as mortes do seqüestrador e uma refém. Ao escolher contar a história do ângulo do seqüestrador, fui chamado de esquerdista, comunista. Ao contar a história de TROPA DE ELITE do ângulo do policial, passei a ser chamado de fascista. São simplificações que não fazem mais sentido. Constroem um muro que, aqui nesta cidade, já foi destruído. As coisas hoje em dia são muito mais complexas”.
TROPA DE ELITE compete oficialmente pelo Urso de Ouro. A estratégia é abrir caminho pelos festivais Internacionais até chegar ao Oscar 2009, onde têm chances de competir nas categorias de Melhor Edição, Fotografia, Roteiro Adaptado e Diretor (José Padilha).
Por Luiz Zanin Oricchio (Estado), Silvana Arantes (Folha) e Agências Internacionais
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4 comentários:
Apesar desse silêncio absoluto poder representar o sucesso do filme (ou seja, o que ele provocou nos críticos), acredito que a recepção poderia ser melhor. Pelo jeito essa tradução prejudicou muito o resultado, ainda mais falado por uma mulher. De qualquer forma acredito na força do filme e espero que consiga chegar ao Oscar.
Acho que o silêncio representa recepção morna, mesmo. Não é todo dia que temos o melhor de dois mundos.
Acho até normal o silêncio absoluto depois de um filme como "Tropa de Elite". Acho que a obra só causa um impacto imediato em nós, brasileiros, que entendemos o que acontece no Rio de Janeiro. De qualquer maneira, sucesso para "Tropa de Elite" em sua trajetória internacional.
querido,
Coloquei umas fotos no blog diretamente de Berlim, uma amiga que mora lá quem tirou.
Meio desfocadas, na verdade, mas enfim...
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