1.8.07

Como deixar Jane Austen sexy

Como devolver a paixão, se não sexo de fato, à Jane Austen e suas heroínas é a mais nova onda de Hollywood, na atual "indústria de Austen". Vários colocam palavras de Jane Austen nas bocas de outros personagens - seja nos filmes de "Harry Potter" ou na série de televisão "The Gilmore Girls".

"The Jane Austen Book Club", sobre seis pessoas que se reúnem para discutir a vida e sua autora favorita, estreará nos cinemas americanos em 21 de setembro, logo depois de "Becoming Jane", que dá à própria Austen (Anne Hathaway) um grande romance altamente fictício. Austen tem inspirado novos livros, blogs e -definindo sua imagem como escritora para solteironas empertigadas- dezenas de 'mash-ups' engraçados no YouTube.

Como esta romancista do início do século 19 se tornou a atual rainha do filme light para mulheres? Poucas outras escritoras atingiram tal grau de celebridade pop: Virginia Woolf e Sylvia Plath pelo drama de seus suicídios, as Brontes pelo romance gótico de suas novelas e o contraste com suas vidas tranqüilas. Mas nenhuma inspirou tanto fanatismo e ardor -ou mercantilismo- quanto Austen.

Ela entrou na cultura popular mais amplamente que outros escritores por ser assustadoramente contemporânea. Seu retrato irônico da sociedade é apresentado por uma voz confortadora, de irmã, como se fosse parte Jon Stewart, parte Oprah Winfrey. Sob os detalhes de época, a heroína típica de Austen oferece algo para que quase toda mulher se identifique: ela não tem medo de ser a pessoa mais inteligente na sala, mas após uma série de mal-entendidos fica com o homem de seus sonhos. Não é preciso ser um gênio de marketing para avistar um público potencial de cinema para a fantasia do conseguir tudo.

E apesar da era de Austen -com seu código rígido de regras sociais- poder ser repressiva para quem vivesse nela, parece positivamente pacífica e estável, quando belamente retratada na tela. Um descanso do atual mundo frágil e não confiável de relações breves, divórcio e terapia familiar.

Tudo o que falta a Austen é o sexo, e muitas novas adaptações estão acrescentando o que ela era elegante demais para mencionar.

A ênfase na atração física começou com a minissérie "Orgulho e Preconceito" da BBC, de 1995, que transformou Colin Firth em ídolo romântico como um Darcy cheio de sex appeal. No ano seguinte Helen Fielding atualizou "Orgulho e Preconceito" em "O Diário de Bridget Jones", batizando seu herói de Mark Darcy e acentuando o quanto a popularidade de Austen estava intricadamente ligada aos filmes.

Bridget, na verdade, não é louca pelo Darcy de Austen, mas em Colin Firth como Darcy nas telas; na seqüência do romance, "Bridget Jones -No Limite da Razão", ela fica obcecada pela cena dele emergindo de um mergulho em um lago com a camisa molhada. (Firth até mesmo foi astuto em interpretar Mark Darcy nos filmes 'Bridget Jones'.)

Tal onda de Austen nos anos 90 incluiu pelo menos seis adaptações para as telas, com três versões de "Emma": a de Gwyneth Paltrow, a de Kate Beckinsale e "As Patricinhas de Beverly Hills", que atualizou sagazmente a personagem em uma estudante colegial mimada de Beverly Hills.

Trazer à tona a paixão em "Orgulho e Preconceito" foi deliberado, disse Andrew Davies, que escreveu a minissérie. "Sexo é o motor da trama em "Orgulho e Preconceito", disse Davies em uma entrevista. "Darcy se vê sexualmente atraído por Elizabeth antes mesmo de conhecê-la. Quando finalmente a conhece, ele não gosta dela, mas ainda assim não consegue se afastar dela."

Para o novo "Razão e Sensibilidade", a história da sensata Elinor e sua irmã mais jovem impulsiva Marianne (Emma Thompson e Kate Winslet no glorioso filme de 1995), Davies levou ainda mais longe a alusão de Austen ao sexo. No romance nós apenas ouvimos que o homem que Marianne ama, Willoughby, teve um filho com uma mulher jovem. Mas como Davies a descreve, Willoughby seduz "esta menina de 15 anos, então parte, a deixando grávida e a esquecendo completamente".

A versão cinematográfica de 2005 de "Orgulho e Preconceito", com Keira Knightley e Matthew Macfadyen, enfatizou tanto a atração física entre eles que Darcy quase se tornou Heathcliff, um herói bronteano taciturno que declara ferozmente seu amor parado em meio uma tempestade de chuva e vento. Isto muda radicalmente Austen. Se Darcy não é uma pessoa antiquada, quem ele é? Mas isto ajuda a tornar o romance mais atraente para um público contemporâneo;

Atração sexual é o mínimo que as pessoas esperam em um casamento hoje em dia. Na época de Austen, quando casamentos arranjados e casamentos de conveniência eram comuns, suas heroínas extraordinárias insistiam no amor, outro motivo para falarem tão diretamente aos leitores modernos.

Marsha Huff, a presidente da Sociedade Jane Austen da América do Norte (como muitas fãs de Jane, ela não é uma acadêmica; é uma advogada tributária) aponta para a cena em "Orgulho e Preconceito" na qual lady Catherine (Judi Dench no filme de 2005) tenta pressionar Elizabeth a desistir de Darcy por ser socialmente inferior a ele. "Elizabeth reage exatamente como reagiríamos: ela se sente insultada, fica indignada pela forma como este dinossauro de outra era tenta dizer a esta mulher jovem, bela e inteligente o que fazer", disse Huff em uma entrevista.

E por mais que a sociedade tenha mudado, as heroínas de Austen -diferente das heroínas das Brontes- lidam com obstáculos críveis e atemporais de classe, dinheiro e mal-entendidos, que tornam suas obras adaptáveis a qualquer era. Como disse Huff: "Todas acham que são Elizabeth Bennet; nem todas acham que são Jane Eyre. Todo mundo conhece uma mulher jovem tentando decidir se o sujeito pelo qual está atraída é a pessoa certa. Nem todas conhecem o homem certa que tem uma esposa louca no sótão".

A própria Austen viveu uma vida tranqüila como filha de ministro religioso e nunca se casou. Mas em uma era de celebridades, é surpreendente que filmes sobre ela, como 'Becoming Jane"', tenham demorado tanto para serem feitos. E quem não gostaria que ela tivesse tido um romance ardoroso como o que deu às suas heroínas? O filme atende tal desejo nas telas, adotando uma abordagem histórica, convencional, ao período, ao mesmo tempo em que dá a Austen uma aventura que -como reconhecem os cineastas- ela provavelmente nunca teve.

A escassez de fatos. As cartas de Austen revelam que quando tinha 20 anos ela se apaixonou por um jovem irlandês chamado Tom Lefroy, que estava visitando seu tio e tia, vizinhos dos Austens, no Natal de 1795. Nem Jane e nem Tom tinham dinheiro, um obstáculo intransponível para o casamento. Tom partiu após esta visita para as Festas e provavelmente ela nunca mais o viu. (Alguns argumentam que eles se encontraram mais uma vez em um período posterior.) Suas cartas deixam claro que ela ficou dolorosamente decepcionada, mas não há evidência de que o flerte tenha ido além disto.

"Imagine para si tudo de mais devasso e chocante na forma de dançar e sentar juntos", escreveu Austen para sua irmã, Cassandra, sobre seu encontro com Lefroy em um baile. (Tradução: eles dançaram juntos o suficiente para provocar comentários das pessoas.) É seguro presumir que a verdadeira Austen nunca disse, como a Jane das telas faz após dar um beijo passional em Tom (James McAvoy) sob o luar após um baile: "Eu fiz isto bem? Eu queria pela menos uma vez ter feito isto bem? Apesar de tais exageros, o filme não transforma Jane em uma meretriz.

Homenagens contemporâneas como "The Jane Austen Book Club" não precisam ser tímidas sobre a heroína saltar para a cama com um Príncipe Encantado potencial. Mas enquanto o romance de Karen Joy Fowler parece contido -cinco mulheres e um homem possuem problemas românticos que a leitura de Austen convenientemente os ajuda a resolver- o filme de Robin Swicord vai mais diretamente à essência do atual apelo de Austen. Ele começa com uma barulhada de celulares e trânsito da hora do rush, o barulho e confusão mental da vida cotidiana dos quais Austen ajuda a escapar.

E se apóia na voz otimista, de irmã, que torna Austen tão confortadora. Bernadette (Kathy Baker), uma mulher mais velha e sábia que já se casou várias vezes, conhece Prudie (Emily Blunt), uma mulher jovem perturbada em um casamento problemático, em um festival de filmes de Jane Austen. Quando Bernadette sugere o grupo de leitura, ela assegura a Prudie: "É o antídoto perfeito".

Prudie pergunta: "Para o quê?"
"Para a vida", responde Bernadette.

Por Caryn James - NYTimes

2 comentários:

Gustavo H.R. disse...

Austen e o cinema, bela parceria.

Anônimo disse...

Já tinha lido essa matéria outro dia, mas só agora comento. Não sei se essa mania de levar Austen ao cinema vai perdurar por mais tempo, mas gosto de muitos filmes desses citados. "Orgulho e Preconceito" é meu preferido até agora. Estou interessado em "Becoming Jane", mesmo com as críticas mornas.

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SoSuechtig,Burajiru